6 de março de 2013
É por textos destes, que continuo a gostar de te ler Pipoca
"A coisa chega devagarinho, muitas vezes nem se dá por ela. Parece só um mal estar. Um incómodo. Qualquer coisa que chateia, muitas vezes nem se sabe o quê. Ou porquê. Depois a sensação aumenta. Espalha-se. O ligeiro incómodo torna-se um peso. E, de repente, instala-se a apatia. A vontade de não fazer coisa nenhuma. O acordar e não querer sair da cama, porque nada parece suficientemente interessante ou motivador. É muito mais fácil ficar ali, alheio ao mundo. Não ver ninguém, não falar com ninguém, até porque não há, no mundo, alguém que consiga entender, que consiga fazer uma ideia, ainda que remota, daquilo que se está a sentir. E não apetece levar palmadinhas nas costas, ouvir que vai passar, que temos de ser mais fortes, que temos uma vida perfeita, que não há razões para aquilo. Pior do que ouvir, é sentir o que os outros pensam e não dizem: que é tudo fita, que estamos a dramatizar, que dali a umas horas já passou, que lá estamos nós outra vez com os nossos achaques. A verdade é que a depressão (é disso que estou a falar) é uma merda. E só quem já por lá passou é que sabe que é mesmo assim: uma merda. Nos tempos áureos dos meus ataques de pânico (sobre os quais já escrevi aqui há algum tempo) dei por mim a derrapar para um estado depressivo. Os ataques estavam a tomar conta da minha vida, a condicionar-me a tal ponto que eu percebi que estava na hora de me deixar de coisas, de me armar em esperta, e procurar ajuda. Na altura só queria que me deixassem em paz. Só queria ficar em casa sem ter que explicar aos outros aquilo que eu própria não conseguia explicar a mim mesma. Não sabia porque é que me sentia mal, porque é que estava apática, porque é que não tinha vontade de coisa nenhuma. A certa altura, uma pessoa sente que pode estar a caminhar a passos largos para a loucura. Porque, aparentemente, tudo parece estar bem e não há nenhum motivo para que seja de outra forma. Mas depois não. Depois está tudo mal. Ou, pelo menos, o sentimento é esse. Mas, por mais que se tente, por maior que seja o esforço, não se consegue explicar. Já passaram pela minha vida várias pessoas que lidaram com depressões. Familiares, amigos, namorados. E se não é fácil para as pessoas que vivem esse drama (porque é um drama), também não é fácil para os que têm de lidar com ele. Muitas vezes não se sabe como ajudar, o que dizer, o que fazer para minimizar o que o outro está a sentir. É normal (mas pouco útil) perder-se a paciência e dizer coisas que não ajudam em nada. Actualmente, tenho uma amiga a passar por uma depressão, e foi por isso que achei interessante trazer este assunto até ao blog. Porque, muitas vezes, ajuda ouvir opiniões alheias e isentas sobre o tema. Sinceramente, acho que em Portugal não se dá a devida importância à mente. Acho que, culturalmente, somos um povo educado a guardar os seus problemas, a não exteriorizar muito. Vamos sempre “andando” e acabamos por remeter para segundo plano uma data de coisas sobre as quais não nos apetece pensar nem resolver. E, claro, é por isso que depois acaba por se explodir. Há um dia em que já não temos espaço dentro de nós para guardar tanto problema e tanta chatice e tanta coisa mal resolvida, e isto resulta num colapso da mente. Pufff! Mandasse eu neste País e era ver toda a gente a ser obrigada a fazer terapia (e claro, também era importante que fosse mais barata, ou mesmo gratuita). Só uma horita por semana, ou a cada quinze dias. Era mais do que suficiente para andarmos todos mais em paz, connosco e com os outros. Acho que ainda há um grande estigma e preconceito em torno disto. Ainda custa admitir que se vai a um psicólogo, e ainda se olha um bocadinho de lado para quem admite fazê-lo. Do género “ah, coitadinha, é maluca”. Pessoalmente, no pouco tempo que tive o acompanhamento de uma terapeuta vinha de lá revigorada. Depois começa-se a achar que já está tudo mais encaminhado (ou mesmo resolvido), que não se tem muito tempo, que não apetece gastar dinheiro nisso, e pronto, deixa-se. Mas é óptimo descarregar o que nos vai na alma para cima de uma pessoa que não vai fazer qualquer espécie de julgamento, e que nem sequer nos diz o que temos de fazer. Só nos orienta o pensamento, só nos obriga efectivamente a pensar nas coisas, na nossa vida, algo para o qual nunca temos tempo (ou que nunca queremos fazer). Não é preciso ter problemas do tamanho do mundo. O simples acto de falar, sobre tudo e sobre nada, é pacificador e parece tirar-nos um peso de cima. Mas para quem está a passar por uma depressão, acho ainda mais importante. Os medicamentos ajudam, cumprem o seu papel, mas não resolvem o problema de base, o que está realmente mal. Gostava que, caso tenham passado (ou estejam a passar) por uma depressão ou algo semelhante, partilhassem a vossa história, se vos apetecesse. Quando falei aqui dos ataques de pânico, fiquei surpreendida com a quantidade de gente que estava a passar pelo mesmo, e ainda hoje recebo muitos mails sobre esse assunto. Acho que da partilha saem sempre ideias interessantes e que podem ser úteis. Acho também que temos de estar alertas, não só a nós mas a quem nos rodeia, porque isto não é uma coisinha que se ultrapasse de ânimo leve. É grave, é duro e é importante saber pedir ajuda." Não escreveria melhor. Obrigada pela partilha.
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